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Um barco cheio de valentes mulheres com medo

02/06/2021
Remar em Dragon Boat, foi uma aventura fabulosa para aquelas mulheres, que se voluntariaram a participar de um projeto realizado pelo Dr. Don McKenzie, médico especializado em Medicina Esportiva da Universidade de British Columbia, na cidade de Vancouver, Canadá.

FONTE: COPAC/CBCa

Nos encontramos pela primeira vez em janeiro de 1996. Don e seus colegas, Diana Jespersen e SherriMagee, nos mostraram um vídeo muito curto de uma equipe de mulheres competindo em um Dragon Boatem Hong Kong. Essas mulheres eram campeãs mundiais e Don nos disse que seríamos exatamente como elas. 

 
Ficamos sem palavras. Nós, 24 BCS nos olhamos com muito ceticismo. Tínhamos fé e confiamos no Dr. Don. Afinal, o que temos a perder? Ser advertido para não levantar mais de 5 quilos e evitar movimentos repetitivos dos membros superiores, desde o tricô até a canoagem, mudou nossas vidas e para melhor. 
 
Não nos conhecíamos e não sabíamos o que era remar em Dragon Boat. Estávamos felizes em ajudar o Dr. Don a testar sua teoria para quebrar o mito médico, que as pessoas tratadas com câncer de mama devem evitar movimentos extenuantes de seus membros superiores por medo de desenvolver o Linfedema, inchaço no braço.
 
Éramos todas diferentes em nossas formas corporais, profissões, experiências atléticas, níveis de treinamento físico e idades, entre 32 e 64 anos. Tínhamos duas coisas em comum:
 
- Primeiro, estávamos todas com medo. Iríamos desenvolver Linfedema? Isso doeria? Nossas famílias também estavam com medo.
 
- Segundo lugar, éramos todas ousadas. Edie era enfermeira e toda vez que ela tinha que mover um paciente, ela se lembrava do que seu médico lhe havia dito, para não levantar mais de 5 quilos. Sandra era uma remadora e seu médico lhe dissera para não fazer isso novamente.
 
Tivemos que ir para a academia treinar por 3 meses; muitas de nós nunca tínhamos treinado antes. A primeira vez que estivemos na água foi por uma hora e meia e remamos por apenas 14 minutos. Nossos braços foram medidos, medidos e medidos novamente. Chamamos-nos de: Abreast In A Boat (AIAB).
 
Finalmente chegou o grande dia. Competimos em um festival internacional de Dragon Boat. A raia tinha 650m e nosso único desejo era a linha de chegada. Don nos disse que éramos vencedoras apenas por entrar no barco.
 
Quando saímos do cais, deixamos para trás algumas dezenas de familiares e amigos. Quando chegamos à linha de chegada, sempre em primeiro lugar na nossa raia, havia milhares de pessoas nos cumprimentando. Nós conseguimos. Estávamos felizes, nossas famílias também e nenhuma de nós desenvolveu o linfedema.
 
Don achou que esse projeto terminaria com o festival, mas nós tínhamos outros planos. Ganhamos muito com essa experiência. Além de sentirmos saudáveis e treinadas, percebemos que havíamos recuperado o controle de nossas vidas; poderíamos fazer o que queríamos.
 
Fizemos amizades para a vida toda e tivemos muitas alegrias, mais risos do que lágrimas. Afinal estávamos no mesmo barco.
 
Convencemos o Don a continuar nos treinando e, no ano seguinte, a AIAB carregava três embarcações com sobreviventes de câncer de mama. Em fevereiro de 1998, uma de nossas equipes viajou para um festival internacional em Wellington, Nova Zelândia. Em nosso primeiro dia no barco, o barco virou e uma foto nossa na água apareceu em um jornal de circulação nacional.
 
Muitos neozelandeses nos disseram que não havia câncer de mama na Nova Zelândia! Daquele momento em diante, fomos motivo de conversa entre os moradores. Para onde íamos, perguntavam se éramos aquelas canadenses malucas com câncer da mama que remavam naqueles barcos. E então, compartilharam conosco suas histórias pessoais sobre o câncer de mama.
 
Tivemos um grande êxito em Nova Zelândia, o que nos deu forcas para compartilhar nossa mensagem ao redor do mundo. Na verdade, existe vida após o diagnóstico de câncer de mama e nós o provamos. Qualquer um pode remar em Dragon Boat. Existem atualmente 250 equipes no mundo, nos seis continentes habitados.
 
Don ainda continua sua investigação. Mais importante, ele provou cientificamente que o exercício reduz o risco de recorrência em até 40%.
 
Para concluirmos, é o que aprendemos em nosso primeiro ano: Empurre as pás com força, ver com clareza, rir muito e alto, comemorar nossas vidas, chorar nossas perdas, trabalhar para encontrar as causas desta doença terrível. E saber que estamos fazendo a diferença. Percorremos um longo caminho, desde que aquelas valentes mulheres com medo, subiram em um Dragon Boat em Vancouver, Canadá, em 1996.
 
Realmente fizemos a diferença. E você pode fazer isso também!
Admin | Projeto Meninos do Lago