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Copa Brasil de Canoagem Slalom Piraju - SP

10/08/2022

10/08/2022

Por: Argos G. D. Rodrigues

 

Dias 5, 6 e 7 de agosto aconteceu na bonita Estância Turística de Piraju a 1ª Etapa da Copa Brasil de Canoagem Slalom com a participação de pouco mais de 117 embarcações juntando a primeira e segunda divisões, lembrando que um mesmo atleta pode fazer três categorias distintas.

 

As provas aconteceram no volumoso Rio Paranapanema. Só para efeitos de comparações, o canal de canoagem que sempre foi destaque no mundo face ao seu desnível e volume d´água, causando certo temor em treinadores e atletas é o de Bourg Saint-Maurice, na bonita região que divide os alpes ocidentais na França. Mesmo que atualmente o local de largada de Bourg tenha se deslocado mais para baixo, exatamente por questões de segurança, as competições ainda acontecem com 28 a 30 m3/s. Isso é três vezes mais que a imensa maioria dos canais artificiais que normalmente trabalham entre 10 a 12 m3/s, como é o caso do Rio de Janeiro, Londres, Sidney e dezenas de outros. Em Piraju, para a prova de “iniciantes”, foram disponibilizados 80 m3/s. Para as categorias juniores e seniores masculinos as provas aconteceram com 200m3/s.

 

Assim como Bourg Saint-Maurice é importante para a Canoagem Slalom francesa, Piraju sempre foi e continua sendo essencial para este esporte olímpico brasileiro. As águas desse Rio trouxeram para o Brasil os seus melhores resultados internacionais, colocando o País em evidência. Muito embora, por uma série de razões, a escola local tenha diminuído sensivelmente sua participação no circuito nacional nos últimos tempos é fato que o Município tem investido em projetos urbanísticos, como a construção de uma bonita passarela na lateral da pista que auxilia muito os atletas e a própria segurança.

 

 

Ocorre, porém, que da mesma forma que os franceses evoluíram na ótica de segurança de seus eventos em Bourg Saint-Maurice o Brasil precisa evoluir neste tema no Canal de Piraju. Não é o simples fato de nunca ter acontecido acidentes fatais, que possa legitimar um canal desportivo como apropriado e seguro para competições desportivas. Somente “um” fator técnico aqui citado (vazão), já poderá ser suficiente para dar azo às discussões jurídicas sobre imprudência e negligência.

 

A ideia aqui não é retirar de Piraju o direito de sediar provas, em absoluto não é esse o tema, mas fazer com que o local proporcione provas onde seja realmente possível a questão de segurança. Concentrar crianças em um canal de 15 metros de largura com vazão de 80 m3/s, dizendo que é seguro parece ferir de morte o principío da razoabilidade. Um verdadeiro disparate que apenas os mais apaixonados endossam. Se perguntar para qualquer pessoa do mundo ligada ao esporte, vão rir dessa simples constatação. Para o Ministério Público ou Juiz de Direito que eventualmente tenham que atuar em casos de acidente, provavelmente não haverá nenhuma dúvida de aplicar o art. 2º, XI, da Lei 9.615/98.

 

Com o devido respeito, não se tem como garantir segurança com esse volume d´água, mesmo que haja aparência tranquilidade não haverá muito a ser feito em caso de alguém submergir. Pior ainda quando deparamos com sumidouros, como aconteceu com uma atleta do IMEL onde foi sugada para o fundo, junto ao seu caiaque e remo, emergindo alguns exaustivos e preocupantes segundos após. Fato assustador que já aconteceu também em outras edições nesta mesma localidade. 

 

Para passar 80 m3/s em um canal de 15/20 metros de largura é claro que a profundidade é grande e não haverá muito o que ser feito se porventura o atleta não retornar à superfície. É bem verdade que nenhum outro local do mundo haverá garantia de segurança absoluta. Acidentes podem acontecer em qualquer localidade, porém em havendo excesso de risco integral o agente causador obriga-se a reparar o dano em toda sua extensão, criando barreiras inclusive para a admissão de causas excludentes da responsabilidade civil, a exemplo de caso fortuito, força maior, etc. Graças à Deus, foi mais um evento que nada aconteceu de grave, porém novamente assustou muita gente.

 

Dessa forma, à título de sugestão, provas de iniciantes em Piraju devem ser realizadas na Lagoa (água parada) ou na segunda parte do Canal onde o Rio passa de 15/20 metros de largura para 40/60 metros o que faz com que a velocidade caia acentuadamente, aí sim possibilitando ações de mergulhadores. Isso já acontecia no passado, diga-se de passagem.

 

O local me parece ideal para eventos de exploração de imagens, como por exemplo, prova televisiva para "lançamento" da nova disciplina olímpica de Extremo no Esporte Espetacular ou algo do gênero. Onde atletas "maiores" de idade participariam se jogando do alto da pedra. Sem dúvidas seriam imagens impactantes.  Agora, salvo mudanças nas condições de segurança e também técnicas, o nível de dificuldade no local não é para provas do Circuito Nacional, principalmente nessa fase de renovação dos atletas que provavelmente será a maior já realizada na história.

 

É bom repetir sempre que Piraju é importante para o esporte nacional e que o Município investiu em uma passarela que ficou realmente maravilhosa às margens do Rio, mas, com o devido respeito, o nível de dificuldade e segurança no local não é para provas do Circuito Nacional e sim para grandes eventos de exploração de imagens radicais se essa for a nova concepção da Confederação Brasileira de Canoagem.

 

Mudando o tema segurança para "qualidade técnica da pista". Sem entrar na questão da arbitragem que não é fácil, principalmente para regulagem ou mudanças de portas, cabos cronometragem, acesso dos juízes e etc, trata-se de um local que não dá margem para opções de portas, ou seja, as remontas são sempre nos mesmos locais e as verdes mais ou menos idem. É fato que atletas locais em qualquer parte do mundo levam vantagens sobre os demais concorrentes por conhecerem muito melhor os seus respetivos campos de treino. Existem alguns estudos que comprovam isso. Mas também os conceitos do próprio esporte e do fair play determinam que haja opções para o desenhista de pista. Em Piraju parece não existir essa possibilidade.

 

Se verificarmos no youtube, as pistas de competição e de treino de Piraju são praticamente as mesmas sempre. Abaixo temos endereços de competições e treinos de 2011 e 2012 onde os atletas executam praticamente os mesmos movimentos utilizados na prova de 2022.

 

2011: https://www.youtube.com/watch?v=Ffd3HTMLtpU

2012: https://www.youtube.com/watch?v=3F6WCyjjNu4

2022: https://www.instagram.com/p/ChPn69RKyzv/

 

Isso dificulta muito principalmente para as categorias mais novas, pois os atletas locais sempre treinam com o formato idêntico ou muito semelhante ao que vai acontecer na prova. Isso descaracteriza a Canoagem Slalom. Enquanto atletas de outras localidades necessitam 15 remadas para passar em duas remontas, isso quando conseguem passar, atletas de Piraju fazem com muita tranquildade as duas com apenas 5 remadas. Seria um pouco mais justo se ao menos houvesse tempo mínimo de treino para quem vem de fora. Isso não foi possível pela realidade do esporte e também pelas condições de água local.

 

Outro problema acontecido no evento que causou preocupação foi a mudança das regras com relação as premiações para as associações nas etapas do circuito nacional. As regras estão devidamente previstas e inseridas na página, mais precisamente no artigo 35, do Caderno de Encargo e Diretrizes, onde está claro que “Para facilitar a contagem dos pontos pelos organizadores dos eventos, apenas serão pontuadas as medalhas de ouro, prata e bronze de todas as categorias oficiais (SOMATÓRIA DA 1ª e 2ª DIVISÕES), da seguinte forma: OURO = 100 • PRATA = 50 • BRONZE = 25.

 

Com o início da pandemia em março de 2020, as atividades de canoagem em Foz do Iguaçu tiveram que ser paralisadas por conta da pandemia. Sequer entrar no Canal Itaipu era possível de forma que foram quase dois anos de paralisação completa. Com isso, alguns atletas mais velhos que se destacavam no cenário nacional não retornaram mais quando as atividades foram novamente liberadas em dezembro de 2021.

 

O reflexo disso já começou a ser observado em Piraju, quando se separou a premiação da 1a e 2a divisões. E isso terá reflexos negativos para o IMEL com relação às suas metas qualitativas, pois dentre outras, há compromisso de se buscar a hegemonia da primeira e segunda divisões da Canoagem Slalom brasileira. O leitor não deve entender essas descrições de metas como soberba ou petulância do IMEL. Em absoluto. Trata-se apenas de oferecer a uma Empresa que investe 1,5 milhão por ano no esporte, resultados coerentes ao investimento. Oxalá outras grandes empresas comecem a investir também no esporte. Isso deveria ser comemorado por todas as demais associações, pois a logomarca desse Patrocinador poderá abrir oportunidades para inserção de novos e grandes projetos. Qual modalidade desportiva tem uma logomarca de peso há mais de 13 anos? Dificilmente passará de 10 projetos entre todas as disciplinas olímpicas no Brasil.  

 

É claro que novas Empresas vão entrar em projetos que oferecerem metas audaciosas. Muito provavelmente não existe outra associação de Canoagem Slalom no Brasil que tenha suas metas quantitativas e qualitativas expostas na internet, como faz o IMEL. Se um dia aparecer outra, com uma grande empresa patrocinadora, essas metas também estarão publicadas. Isso é perfeitamente normal e altamente recomendável a todos. Não há nenhum motivo para se ter ciúmes.

 

Voltando à mudança de regras na premiação em Piraju. Não é o caso de um troféu a mais ou um troféu a menos. O problema é que se não houver um breque agora, outras normas surgirão de surpresa podendo colocar em cheque as metas que foram inseridas no Projeto sob uma normatização desportiva. Se o Comitê quer mudar regras e até é compreensível que deva ser feito isso, pois o Caderno de Encargo e Diretrizes merece realmente reformas, inclusive para normatizar o Extremo, isso terá que ser feito antes do início do campeonato. Mudam-se regras agora e colocam-se em prática à partir de 2023.

 

Eventual desprezo por normas tende a ser revisto através do STJD. Em não havendo esse órgão na CBCa, conforme determinado em Lei, a Entidade terá que ser impedida de receber verbas do governo, inclusive da Lei Agnelo/Piva (art. 18, III, Lei 9615/98). Portanto, não se pode brincar de legislar. Claro que é possível mudar as regras, mas existem regras e momentos oportunos para isso e é bom sempre obedecer para não colocar a própria Entidade em risco.

 

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Admin | Projeto Meninos do Lago