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Por Argos Gonçalves Dias Rodrigues.

Dia 15 de maio de 2025, após alguns meses longe do local que aprendi a amar e respeitar, cheguei na Itaipu Binacional para mais duas semanas intensas de atividades dentro do Projeto Meninos do Lago. Antes mesmo de adentrar ao Parque da Piracema, percebi uma ansiedade muito grande pela minha presença por parte da coordenadora do projeto o que me deixou um pouco encafifado.

Emotivo e avesso a homenagens, já imaginei tratar-se de alguma surpresa preparada pelo Projeto que tive o prazer de construir no ano de 2009, na Cidade de Foz do Iguaçu, com o apoio da Itaipu Binacional, Comitê Olímpico Brasileiro e Confederação Brasileira de Canoagem e que hoje é reconhecido formalmente pela Federação Internacional de Canoagem, como um dos maiores projetos sociais de canoagem do mundo.

Ao chegar no mirante central do Parque da Piracema, já não havia mais dúvidas que algo surpreendente estava por acontecer. Vários carros no local, mas nenhum atleta na água ou em treinamento. Nesse momento a Coordenadora me informou que o dia seria destinado ao batizado do novo Dragon Boat do Instituto Meninos do Lago e que o mesmo seria chamado de “Argos”.

Coração batendo mais forte, dirigimo-nos às tendas montadas na margem do Lago Superior onde, para minha grata alegria, estavam presentes várias “Meninas do Lago” que me saudaram com bastante carinho em um ambiente cuidadosamente preparado para a cerimonia de batismo da embarcação.

O Dragon Boat tem origem na China há mais de 2.500 anos. Seu uso varia em diferentes locais da Asia. Já foi instrumento militar, meio de transporte entre mares e até mesmo utilizado em rituais religiosos. A partir da década de 90, a embarcação que abriga 22 tripulantes, passou a ser ocupado por guerreiras que venceram o câncer de mama no mundo todo após estudos do oncologista Donald McKenzie comprovarem cientificamente os benefícios físicos e mentais da prática para esse público alvo.

E assim iniciou o movimento universal das Remadoras Rosas que tive o prazer de oferecer como possibilidade de mais uma ação social à Itaipu Binacional no ano de 2021, a qual, de forma alvissareira, atendeu nossa solicitação incluindo o Dragon Boat dentro das atividades da paracanoagem já existente no Projeto Meninos do Lago. Para minha surpresa e de muitas outras pessoas envolvidas nesta atividade, o time iguaçuense cresceu muito e de forma rápida, ao ponto de ultrapassar o número de 50 mulheres, transformando no maior time do Brasil que eu tenha conhecimento.

Essa iniciativa proposta por Don Mckenzie visa manter, na medida do possível, toda a história e pragmatismo oriental que envolve essa embarcação. Inclusive a “cerimônia do despertar do dragão” que tem como simbologia a pintura dos olhos do dragão momento em que o mesmo passa a dominar as águas pelas quais navega. E quando nasce se batiza.

A primeira embarcação do IMEL foi batizada de Nanda, em homenagem a uma jovem atleta que faleceu prematuramente aos 19 anos, vítima de câncer. Foi uma linda e emocionante cerimônia que aconteceu no ano de 2021, nas dependências do Iate Clube Lago de Itaipu. Dessa vez, eu fui o homenageado. Batizaram o Dragão de Argos.

Repetindo todo o folclore que envolve essa tradição milenar, fiquei lisonjeado e surpreso inclusive pela pesquisa histórica sobre o meu nome. As meninas descobriram que Argos, além de seu significado literal, existe uma lenda repleta de simbolismos e ensinamentos sobre vigilância e percepção aguçada. Para mim foi um momento inesquecível que guardarei sempre com muito carinho deixando a todos os participantes o meu muito obrigado e votos de felicidades com essa nova embarcação.

Para finalizar gostaria de deixar uma pequena fábula que me ajudou a crescer espiritualmente:

Certa feita, um jovem chinês chegou perto de seu avô para pedir um conselho. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra ele. Tomado pela raiva, resolveu buscar os sábios conselhos daquele ancião.

O velho olhou fundo nos olhos de seu neto e disse:

“Eu também, meu neto, às vezes, sinto grande ódio daqueles que cometem injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que fizeram. Mas o ódio corrói quem o sente, e nunca fere o inimigo. É como tomar veneno, desejando que o inimigo morra.”

O jovem continuou olhando, surpreso, e o avô continuou:

“Várias vezes lutei contra esses sentimentos. É como se existissem dois dragões dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta.”

“Mas o outro dragão… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos, o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois dragões dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.”

O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence?”

Ao que o avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento.”

MENINAS DO LAGO, alimentem o Argos apenas com coisas boas e desfrutem a vida como vocês merecem.