Em sua mesa de trabalho no CRV, Lied puxa pela memória momentos da trajetória em Itaipu.
Jorge Alberto Ribeiro Lied, da CS.GB., guarda alguns números na cabeça. Um deles é o do voo que o trouxe à região da tríplice fronteira, no dia 6 de fevereiro de 1977, operado pela Vasp: voo 0140, de Porto Alegre (RS) a Campo Grande (MT), com escala em Foz do Iguaçu. Lied não esquece porque era a primeira vez que viajava de avião; e a primeira – e definitiva – que deixava a família, em Cachoeira do Sul, no centro gaúcho.
Mas não esquece também porque, na verdade, ele perdeu o voo. Após despachar a bagagem, Lied ficou deslumbrado com o movimento das aeronaves na pista do aeroporto. Tanto olhou que, quando tentou embarcar, já era: a bagagem foi, ele ficou. Teve de ser acomodado em hotel e partir para Foz na manhã seguinte. Com a roupa do corpo.
A viagem de 1977 tinha um propósito: trabalhar em Itaipu, na época um gigantesco canteiro de obras, com milhares de trabalhadores, um formigueiro humano. Nesta quinta-feira (9), a viagem chega ao fim. É o último dia de trabalho em sua sala no Centro de Recepção aos Visitantes (CRV). A partir de sexta, Lied entra de férias e depois emenda a aposentaria. Um merecido descanso após 33 anos de trabalho e dedicação.
A despedida dos amigos começou com uma mensagem emocionada que enviou via Notes. “A todos vocês, pelo aprendizado dessa harmoniosa e profícua convivência, a minha eterna gratidão! Saudosas lembranças levarei comigo no pensamento e no coração!!!”, escreveu.
“Sair agora é uma satisfação, é um sentimento do dever cumprido”, disse ao JIE. “E se há algo que nos sustenta na vida, são os amigos de verdade. Primeiro a nossa família, nossos pais e irmãos, e nessa estrada a gente vai caminhando e fazendo amigos. Essa é a base que nos sustenta”.
Jorge Lied faz um balanço da carreira: “Sair agora é uma satisfação, é um sentimento do dever cumprido”.
Trajetória
Lied veio a Foz acompanhar o irmão, Carlos Sérgio, que já trabalhava em Itaipu. Foi aprovado no teste seletivo promovido pela antiga Companhia Auxiliar das Empresas Elétricas Brasileiras (Caeeb), mas, por causa do parentesco, não conseguiu de imediato a vaga aberta nos escritórios da usina, então instalados na Avenida Almirante Barroso – o Centro Executivo ainda não estava pronto. A vaga era na mesma área do irmão e havia restrição.
O então chefe de Recursos Humanos, Júlio de Mello Pereira, o indicou para trabalhar no Colégio Anglo-Americano até que uma nova vaga surgisse na usina – o que ocorreu, finalmente, no dia 20 de setembro de 1977. Lied ajudou na implantação do Centro de Documentação e fez longa carreira no setor. Foram 26 anos de trabalho.
Em janeiro de 2004, quando já ocupava o cargo de supervisor de microfilmagem, decidiu atender a um desafio: integrar a equipe multidisciplinar que seria responsável por vários programas da usina, como o “Saúde na Fronteira” e o trabalho de proteção à criança e ao adolescente. “Foi quando criamos o programa voluntariado em Itaipu”, lembra Lied. “Fui o primeiro coordenador do Força Voluntária”, reforça.
Turismo
Um ano e meio depois, surgiu uma nova oportunidade: a profissionalização do turismo na usina, justamente a área em que se graduou pela antiga Facisa, em 1990. “A semente (do turismo) nasceu lá atrás, mas quando a Comunicação Social encampou, o trabalho evoluiu muito”, diz Lied, fazendo questão de destacar o empenho do atual superintendente de Comunicação, Gilmar Piolla (com ele, na foto ao lado). “Encerrei minha fase em Itaipu trabalhando na área que eu sonhava trabalhar”, complementa.
Ao longo dos anos, Lied colecionou amigos e formou sólida base familiar. Casou-se com Norma em abril de 1979, com quem teve quatro filhos – Thiago, hoje com 29; Lucas, com 28; Alana, com 27; e Eduardo, 25.
Fora da usina, pretende dedicar mais tempo à família e intensificar o trabalho voluntário na comunidade. Por enquanto, nenhum projeto profissional à vista. A única certeza é Foz do Iguaçu. “Aqui eu estou na base e daqui posso levantar voo para onde meus sonhos quiserem me levar”.